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Apresentação 

 

Entre os meses de agosto e novembro, a turma de Gêneros Emergentes em Radiojornalismo do período 18.2 da Universidade Federal de Ouro Preto analisou, resenhou e criou peças sonoras voltadas para um novo público consumidor deste conteúdo.

 

Para apresentação do último projeto proposto pelo professor Felipe Viero, os alunos Alex Sander, Marcelo Afonso de Souza e Taysa Bocard idealizaram a reportagem radiofônica expandida “Vozes Primazes”. 

 

O objetivo da reportagem é disponibilizar pílulas sonoras (e outras mídias) que permitam a imersão nas histórias narradas, levando informações sobre os aspectos históricos e sociais da construção e evolução do espaço urbano da cidade de Mariana. Nós falamos sobre a primeira Rua Direita de Mariana e a Praça Gomes Freire, popularmente conhecida como Jardim de Mariana.

Mas por que "primazes"? O nome faz alusão à primeira cidade mineira

Áudio
Rua Direita - Voze Primazes
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A Direita é uma das principais ruas de Mariana. O que poucos sabem é que a atual rua não foi a primeira a receber esse nome. Que tal conferir?

Roteiro: Marcelo Afonso

Locução: Marcelo Afonso e Taysa Bocard

Edição: Taysa Bocard

Jardim de Mariana - Vozes Primazes
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A Praça Gomes Freire é um dos pontos mais conhecidos de Mariana-MG. Ela foi cenário para muitas coisas. Que tal ouvir um pouquinho sobre ela?

Roteiro e edição: Taysa Bocard

Locução: Alex Sander

Rua Direita

Por Marcelo Afonso de Souza

Prefácio

 

         Os primeiros esboços deste texto traçaram algumas características da rua Direita. Melhor especificar: traçaram características da rua que se inicia na Ponte de Areia e segue em direção à Catedral Basílica Nossa Senhora da Assunção.

        Pesquisei sobre as principais construções existentes ali: o prédio da Sociedade Musical União 15 de Novembro, a sede da Arquidiocese, a Casa Setecentista, o Museu Casa Alphonsus de Guimaraens e, claro, a Sé. A ideia era personificar os prédios a partir dos relatos daqueles que pudessem narrar suas histórias.

 

         Porém, foi na velha casa onde morou e morreu Alphonsus de Guimaraens, localizada à rua Direita, número 35, que pude conversar com Ana Cláudia Rôla, coordenadora do Museu e contadora de histórias, que me indicou o livro "Termo de Mariana", o primeiro volume, o que direcionou o perfil para outro objeto. Procurando os registros da urbanização do centro histórico da cidade, encontrei um artigo interessantíssimo, datado de 1995, escrito por Cláudia Damasceno, na época, mestranda em Geografia Urbana pela Universidade Federal de Minas Gerais. O texto faz um apanhado documental sobre a fundação e organização de Mata Cavalos, o arraial que originou Mariana.

Um compiladinho histórico

         Boa parte do texto, citado acima, se baseia em obra defendida, e oficialmente aceita, por Diogo Vasconcellos. O autor define o ano de 1689 como data da chegada dos bandeirantes ao Ribeirão de Nossa Senhora do Carmo. Por riqueza do ouro, logo se ergueram, ao redor do rio, toscas cabanas, que formariam o arraial de Mata Cavalos. O nome veio pelo terreno alagadiço que engoliu boa parte dos animais dos desbravadores. Ali foi erguida, também, uma tosca capela, de pau a pique e coberta por palha, dedicada à mesma santa que deu nome às águas.

         O arraial cresceu e pleiteou à Igreja e ao Estado o reconhecimento institucional. O aceite se deu em 1701, pelo Bispo do Rio de Janeiro, que elevou o status da Capela do Carmo à Paróquia, nomeando também o primeiro pároco, padre Manuel Brás.

 

         A história do crescimento do arraial se espalhou e atraiu mais interessados na explorações auríferas. Foi o caso do português Antônio Pereira Machado, que se apossou das terras da região onde hoje é a praça Minas Gerais, no ano de 1703. Vasconcellos afirma que “...foi ao pé de sua casa, que uma ermida consagrada à Nossa Senhora da Conceição foi construída”. Por afronta, o espaço foi nomeado "Arraial de Cima" para se diferenciar de Mata Cavalos, localizada em região mais baixa, junto ao rio. A partir disso, uma relação de poder entre as duas instituições se estabeleceu, pois uma das características marcantes do período colonial era a organização espacial e social ao redor das igrejas.

 

         Em abril de 1711, o arraial de Mata Cavalos foi elevado à categoria de Vila. Dada a importância, foi criada pelos "bons homens" a sua primeira câmara, localizada à rua Direita. Aqui, a primeira surpresa. A região na qual Mata Cavalos nasceu é hoje o bairro Santo Antônio, sede da primeira capela e câmara de Minas Gerais. A citada rua, como habitual em todas as cidades que resguardam a atmosfera simbólica daquilo considerado histórico, era situada à direita da igreja principal, no caso, a Capela de Nossa Senhora do Carmo. A possível existência de uma primitiva "rua Direita" foi um detalhe ao qual nunca me atentei. Na época, Damasceno cita em seu artigo que a atual rua Direita era "um simples caminho, mal preparado, sem a ponte atual, destinado a levar água aos lavrados do Arraial de Cima".

 

         Embora o poder político começasse a sinalizar na "parte baixa" da Vila, o padre Manuel Brás começara a declarar preferência de culto à Capela da Conceição, na parte alta. Ampliada, o padre se mostrou concludente: "a capela se encontra em sítio com maior largueza, melhor servindo à população nascente".

 

       Por ordenações do Reino, por volta de 1715, foi exigida a construção de uma cadeia e de um pelourinho. Junto à câmara, os três formariam o símbolo da justiça e da autonomia da Vila. Porém, os autos de ereção das vilas coloniais eram feitos através de exigências e seguiam as “Constituições Primeyras do Arcebispo da Bahia", as primeiras codificadas e aplicadas na Colônia, redigidas em 1707 em Salvador, capital administrativa e religiosa. Damasceno acrescenta ao levantamento documental o texto transcrito por Murillo Marx, em seu livro “Cidade no Brasil: terra de quem?”, tratando da constituição de número 687 que determinava o seguinte: “...as igrejas se devem fundar, e edificar, em lugares decentes e acommodados (...) havendo-se de se edificar de novo alguma Igreja Parochial em nosso Arcebispado (...) em sítio alto, e lugar decente, livre de humidade, e desviado de lugares immundos e sordidos”.

 

         A medida transferia, assim, o posto de paróquia da antiga Capela do Carmo para a Capela de Conceição. Como se o ultraje da desfeita do pároco Manuel e da Coroa não fossem o suficiente, foi exigido que as três construções: câmara, cadeia e pelourinho estivessem localizadas próximas à Matriz, símbolo do poder religioso.

 

      A organização do espaço urbano através da localização das igrejas não era fundada apenas em tradição, mas, como explica Damasceno, por uma “legislação clara a ser cumprida se se quisesse a sagração, a sua aceitação e eventual promoção pela Igreja”. Ao ser transferida a Matriz, foi transferida, consequentemente, a Rua Direita. O antigo caminho ganhou importância.

 

      Com o passar do tempo, houve outras grandes mudanças, que não cabem aqui, mas valem breve citação: a Capela do Carmo foi dedicada a Santo Antônio, o posto de matriz foi transferido para a Catedral da Sé e a vila se tornou cidade. Em 1745 nasce Mariana.

 

 

A primeira à Direita

 

         Segundo Elaine Hilário, recepcionista da Arquidiocese de Mariana, "se você tomar tino bem em frente à Sé, olhando em direção à Catedral, então sim, a rua Direita estará a sua direita". A explicação, dada em tom definitivo, veio em resposta a uma dúvida: não bastasse ser torta, como poderia a rua se chamar "direita", sem estar bem à direita da Matriz, como é dito em explicações menores no boca a boca dos mercadinhos? O tom impaciente me fez reconsiderar outro questionamento sobre a rua Rosário Velho (a primeira à direita) e sua posição duvidosa à Capelinha de Santo Antônio. Abstraia: seguindo a lógica, se alguém tomar tino bem em frente à Capela e olhar bem em direção à ela, a presumível direção reservada à rua Direita estará a sua esquerda! Sim! Ao lado direito nada existe, a não ser as águas do Ribeirão do Carmo, ou o que sobrou dele.

 

         A etimologia explica que o sentido da palavra "direita" das construções coloniais portuguesas vem de “directa”, tratando-se da principal via de acesso ao núcleo mais significante, constituído, em geral, pela praça da Matriz.

 

         A dicotomia desoriantante entre esquerda e direita, porém, não é o único aspecto que diferencia os ambientes das ruas Direita e Rosário Velho. A transferência do status de matriz da Capela do Carmo para a Igreja da Conceição e todas as mudanças estruturais do espaço urbano exigidas pelas Constituições Primeyras do Arcebispo da Bahia no início do século XVIII, condenou o ambiente berço da cidade ao esquecimento. É o que defende a pesquisadora Cláudia Damasceno, em artigo publicado no livro Termo de Mariana: "as principais obras do arraial primitivo tiveram sua imagem “congelada”, sem receber providência no sentido de sua preservação, provavelmente devido à singeleza das construções".

 

         As construções citadas são duas, apenas. A primeira apresenta placa metálica indicando a data de sua inauguração: 5 de julho de 1711. O prédio da primeira Câmara de Mariana inicia a rua Rosário Velho, bem no topo da ladeira. De número "2", possui duas janelas e uma porta, todas em madeira, tingidas em algum tom de azul naval. As paredes são brancas, cobertas por um telhado colonial, marronzinho. Vale notar que a Câmara, símbolo do poder político, foi construída em polo oposto ao da Capela do Carmo, hoje de Santo Antônio, símbolo do poder religioso e último elemento da extinta rua Direita.

 

        Entre as duas; tudo é satisfatoriamente comum. A aparência do restante da rua destoa bastante dos casarões do centro histórico, é verdade. São casinhas, onde moram pessoas, nenhum salão de beleza, lojinha, padaria, ou botequinho. Com exceção de três sobrados, grandes e isolados na altura de seus três andares, todas as outras casas são bem baixinhas. As fachadas são diminutas e os terrenos alongados. As cores? Sempre as mesmas. Muito verde desmaiado ou salmão desbotado, algumas vem só com o reboco, todas as outras são, aparentemente, pintadas com cal. Exceto por uma, amarela, a diferentona.

 

         Das casas, todas as janelas são viradas para a rua. A maioria vive fechada e as abertas não querem trela com ninguém. Na terceira excursão à Rosário Velho, consegui encontrar uma senhorinha, na casa amarela, de número 90. Perguntei qual era seu nome, ela acenou negativa com a cabeça. Perguntei se sempre morou ali, gostaria de conversar com ela. Um sorriso tímido e me diz com a voz grave e rouca, pela idade, "fala com meu filho, ele fala muito melhor que eu". O filho, porém, trabalha em Belo Horizonte. Quem disse foi a cuidadora, Jaci Aparecida, 58 anos e há apenas quatro morando em Mariana.

 

         Continuando o desbravamento da via, faltava observar a contagem das casas. A numeração se apresenta com um intervalo espaçado em dez, com alguns mistérios reservados quando em quando, como o caso do número 12, inexistente. Se o prédio da antiga câmara é 2, há um salto direto para o 22, 32, 42 e assim, sucessivamente, até o 82. Outro mistério é o salto curto de oito números para o 90 e então, 95 e 105 (o 100 não tem, também). Se a ordem se apresenta sistemática no início, é bem casual do meio ao fim. 122, 123, 125, 126, 127 e 129. Depois, 132, 133, 135, 142, um grande terreno vazio e, finalmente, 152.

 

         Em frente à 152 e parte da 142 existe um outro morro, sob uma grande pedra. No morro, existe um caminho, também feito de pedras, pedras pé-de-moleque, nada doces, diga-se de passagem. O caminho de pedras leva à cruz de madeira, fincada ao chão, atrás dela está a Capela de Santo Antônio, outrora dedicada à Nossa Senhora do Carmo.

 

         Na fronte da Capela existem três janelas, uma sem vidro algum, as outras duas destinadas aos sinos. Acredito que mesmo se for da muita boa vontade de alguém badalá-los, a inatividade já os emudeceu. Parecem concretizados às suas estruturas. Uma escada, de cinco degraus, feitos em pedra, leva à porta. De madeira, assim como todas as outras portas e janelas da Santo Antônio, ela exibe tons de azul e vermelho. Não há como afirmar corretamente qual a cor original usada na pintura da capelinha. Mas pode-se afirmar que já há muito tempo ela não vê uma boa demonstração de carinho.

 

         As janelas laterais são em oito, quatro de cada lado e uma delas sem vidro algum. Na lateral direita existe uma janela maior, também em madeira. Na esquerda; uma porta, medindo menos que 1,80m de altura. Há bocais para iluminação, mas não há lâmpadas, muito menos fiação elétrica. Nas paredes, manchas e lodo, resultado de muita infiltração. Há também pichações, de toda a sorte. Desde desenhos irreconhecíveis a declarações de amor. Algum admirador secreto, ou secreta (cuidado com o sexismo), registrou: "Thaynara, vou te amar pra sempre". Na parte de trás, outra inscrição, dessa vez feita à prego, ou algum outro material cortante: "ana + gleison", assim mesmo, em minúsculas.

 

         Quando se está ao topo do morro da Capela, é possível enxergar toda a extensão do bairro Santo Antônio, suas montanhas e as nuvens sobre as montanhas. É possível ver o rio e a paisagem em seu entorno. Algumas casinhas, construídas ali, por vezes dispensam reboco, pois são feitas de madeira. Alguns telhados são feitos de lona. Uma pichação chama a atenção de muito longe, grande e colorida, feita nas pedras de um outro morro, diz o seguinte "PRETA POSTURA". Corajosa, indicadora do perfil da maioria dos que moram ali.

 

         Se o interessado escolher ficar um tempo maior nesta região, poderá ver, bem a sua frente, a linha férrea do trem da Vale. Sua extensão contorna todo o bairro. Turistas passeiam ali aos sábados, domingos e feriados e é triste perceber como há a glamourização e o descaso para partes diferentes de uma mesma história. A precariedade em que se encontra a Capela de Santo Antônio e toda a infraestrutura do bairro homônimo, parecem pertencer à uma cultura sinistra de desvalorização do lugar. Parece que ecoa, hoje, as palavras de insignificância proferidas pelas autoridades, ainda no século XVIII, sobre o berço de toda a Geraes. Um lugar não decente, baixo, úmido, imundo e sórdido. Apelidado "Prainha", termo considerado depreciativo por grande parte de seus moradores, o bairro sede da primeira capela, da primeira rua à direita e, também, da primeira câmara, mostra força em não esquecer sua história. Uma frase, pichada na terceira casa da Rosário Velho, de número 32, sem reboco, parece uma resposta a todo o desapreço: "o final é quando você desiste".

O Jardim

Por Luiz Loureiro

Minhas primeiras lembranças do Jardim são da década de 1960.

 

Mais arborizado, principalmente na região próxima ao Palácio Episcopal, o local era o principal ponto de lazer da cidade, principalmente no domingo, com famílias e principalmente crianças brincando.

 

Pela manhã havia grande movimentação de pessoas e, na calçada em frente ao atual Subway, era comum a presença de meninos, na faixa dos 12 aos 17 anos, prestando serviços de engraxate para os homens que se dirigiam à Igreja da Sé para a tradicional missa das 10.

 

À tarde era tradicional o passeio das alunas internas do Colégio Providência, o que atraía jovens rapazes para uma paquera discreta. À noite, principalmente aos sábados e domingos, ocorria o tradicional "footing". As garotas, aos pares ou trios, ficavam passeando de um laddo para o outro na calçada da parte baixa, enquanto os rapazes postavam-se ao longo da calçada. Muitos namoros e futuros casamentos começaram assim. O footing ocorria principalmente após o término da missa das 18:30 e da primeira sessão do cine (atual Sesi) e ia até por volta das 22:30, quando acontecia uma espécie de "toque de recolher".

 

A excessão era quando aconteciam bailes no Marianense ou no Guarani, que começavam às 23h e varavam as madrugadas.

Nessas ocasiões o Jardim permanecia frequentado até altas horas, principalmente pelos namorados que utilizavam a parte alta do local ou os bancos estrategicamente colocados em locais de pouca visibilidade.

 

Nos anos 1960 não existiam tantos bares na região. Eram apenas 2: um onde hoje está o Subway e outro logo ao lado. Mas não eram ponto de encontro e não era de "bom tom" a presença de garotas.

 

Isso começõu a mudas no final da década, com a abertura do Mini Lanche, uma lanchonete/barzinho (local do atual Vídeo Place)e do Restaurante e Boate Senzala (atual Casa do Jardim/Fundação Renova).

 

Esses 2 estabelecimentos mudaram radicalmente algumas situações no Jardim e na cidade, sendo os primeiros a serem frequentados pelas moças.

Ainda aos domingos à tarde, o Jardim passou a ser pinto de encontro de jovens e outras pessoas, antes e epois das partidas de futebol realizadas no Campo do Guarani. Foi lá, inclusive, que ocorreum uma grande comemoração pela conquista do tricampeonato mundial pela seleção brasileira, no dia 21/07/1970.

 

Alguns anos depois, com a abertura de outros bares, tanto na parte alta (Rua Barão de Camargos), quanto na lateral (Travessa São Francisco), a concentração de pessoas deixou de ser somente na parte baixa do Jardim, com a ocupação da calçada e da parte paralela a ela por mesas dos bares, assim como maior presença de pessoas pertos dos outros bares. Isso não durou muito tempo, devido a ocorrência de brigas, o que ocasionou a proibição de garrafas fora dos bares.

 

O Jardim também se tornou um ponto importante de concentração de pessoas no Carnaval e, já depois do ano 2000, de apresentações artísticas e outras festividades.

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